A inclusão LGBTQIAP+ em startups é um tema recorrente entre as organizações que se preocupam com a diversidade e o seu papel social. Isso porque a comunidade conquistou muitos direitos nos últimos 20 anos, mas ainda há casos de preconceito e discriminação no ambiente corporativo. Mesmo as startups, que nascem pautadas na inovação, ainda têm muito a evoluir.
O assunto ganha mais atenção no dia 28 de junho, quando o mundo celebra o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+ para lembrar a Rebelião de Stonewall Inn.
Para refletir sobre as medidas adotadas pelas startups, bem como os cenários vividos pela comunidade, este conteúdo traz importantes contribuições. Confira!
Origem do Dia do Orgulho LGBTQIAP+
Como você leu acima, a Rebelião de Stonewall Inn foi o marco zero do movimento pela igualdade civil dos homossexuais.
Em 1969, em Nova York, havia leis que previam a prisão de pessoas que não se vestissem conforme o seu gênero, assim como proibiam a venda de bebidas em estabelecimentos considerados gays.
Como resposta a uma invasão violenta da polícia ao bar Stonewall Inn, que ameaçou prender diversas pessoas naquele dia, o público dentro e fora do local reagiu jogando pedras e outros objetos que estivessem à mão, impedindo a ação da polícia naquele dia. Posteriormente, várias manifestações de apoio à comunidade foram realizadas e, em 1970, ocorreu a primeira Parada do Orgulho Gay para fortalecer o movimento.
Significado da sigla LGBTQIAP+
Com o passar do tempo, as siglas acompanharam o movimento e passaram por modificações.
Nos anos 90, a comunidade se tornou conhecida como GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes). Entretanto, nos últimos anos, novas letras foram adicionadas para aumentar a representatividade.
Hoje em dia, a composição mais utilizada é a de LGBTQIAP+. Veja o que ela significa:
- L, G e B: lésbicas, gays e bissexuais (diz respeito à orientação sexual);
- T: transgênero (trata da identidade de gênero, ou seja, como a pessoa se compreende e se apresenta na sociedade);
- Q: queer (abrange várias possibilidades de gênero e sexualidade);
- I: intersexual (pessoa com características genéticas e biofísicas entre masculino e feminino);
- A: assexual (pessoas que não sentem atração por nenhum dos gêneros);
- P: pansexual (pessoas que sentem atração por outras, independentemente do gênero ou sexo).
Já o símbolo de “+” representa tudo o que as demais letras não descrevem, abrindo a possibilidade de novas denominações.
75% das startups acreditam que apoiar a diversidade é importante
Uma pesquisa da Abstartups (Associação Brasileira de Startups) comprovou que 75,1% das startups nacionais acreditam que é importante apoiar ações que incentivam a diversidade.
No entanto, apenas 3,3% dessas mesmas startups possuem colaboradores transexuais, por exemplo. Além disso, quando o assunto é diversidade na liderança, o cenário de equilíbrio está ainda mais distante.
Conforme a mesma associação, 92,3% dos fundadores de startups são heterossexuais, sendo que somente 3,9% das startups possuem fundadores homossexuais.
Mas afinal como isso se reflete na empregabilidade de pessoas da comunidade LGBTQIAP+?
75% das pessoas LGBT já passaram por constrangimentos no trabalho
Como você viu anteriormente, a maioria das startups acredita que é importante estimular a diversidade. Mas é interessante notar que a mesma porcentagem de pessoas da comunidade LGBTQIAP+, ou seja, 75% já passaram por situações de constrangimento no ambiente corporativo.
O dado foi levantado pela US Chamber Foundation (Fundação da Câmara de Comércio dos EUA), em parceria com o Centro Comunitário LGBT de Nova York. O estudo foi realizado em março de 2020 entre 2 mil funcionários LGBT e 2 mil heterossexuais em Nova York. Confira alguns resultados:
- 36% das pessoas LGBT mentiram ou esconderam partes de suas identidades no trabalho;
- 75% relataram ter experimentado pelo menos uma interação negativa relacionada à sua identidade LGBTQ no trabalho;
- 41% das pessoas experimentaram mais de 10 tipos de interações negativas por conta das suas identidades.
Inclusão LGBTQIAP+ nas pequenas empresas
Quando se fala em ações afirmativas em vagas de emprego e medidas de Diversidade e Inclusão (D&I) em empresas e startups, logo se imagina um cenário voltado às grandes corporações.
Entretanto, também é possível adotar medidas de acolhimento e respeito em organizações de qualquer porte.
Uma vantagem das pequenas e médias empresas, nesse contexto, é que é mais fácil reunir o grupo todo numa videoconferência ou numa sala física para falar sobre a necessidade de inclusão e diversidade.
Isso não é possível numa big tech, por exemplo, que contém diferentes setores com inúmeros funcionários em cada um deles.
Efeitos
Diferente da geração dos nossos pais e avós, os consumidores de hoje estão mais exigentes e críticos. Com o poder de interação e viralização das redes sociais, um comentário negativo sobre a empresa, no que diz respeito à falta de inclusão e diversidade, pode ter efeitos indesejados para o negócio.
Além de tudo, não custa nada lembrar que praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito em razão da orientação sexual da pessoa poderá ser considerado crime. A pena será de 1 a 3 anos, além de multa.
Preparando a inclusão LGBTQIAP+ em startups
Como a maioria das startups pode ser classificada como pequena e média empresa, a inclusão LGBTQIAP+ também é um desafio, mas que nem por isso deve ser deixado de lado.
Portanto, trazemos aqui algumas dicas de como se preparar para promover ações de inclusão e diversidade.
O primeiro e mais importante passo é preparar a infraestrutura, especialmente a cultura da empresa para o recebimento de minorias. Assim, as normas internas e métodos de trabalho devem ser conduzidos de maneira que não gerem impedimentos ou formas de discriminação.
Boas práticas de convivência
É preciso educar os colaboradores quanto às melhores práticas de convivência, o que pode ser executado através de palestras com convidados LGBTs, material de comunicação interna e indicação de leituras complementares, filmes ou séries que trazem a temática à tona. Também ter planos estabelecidos de como agir quando houver uma falta de respeito ou algo mais grave como assédio no ambiente de trabalho.
Atitudes de respeito
Estima-se que 10% da população brasileira seja LGBTQIAP+. O número partiu de uma pesquisa realizada pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em 2008, a respeito de sexualidade e gênero.
Portanto, independentemente do tamanho dessa comunidade, é fundamental estabelecer atitudes de respeito na empresa, seja junto ao público interno ou externo.
Mentalidade de “Diversigrowth”
A diversidade nos faz crescer. É esta a mentalidade do “diversigrowth”, que defende o crescimento pessoal e profissional a partir das interações com equipes diversas. É necessário que em todas as camadas de gerenciamento da empresa o pensamento de diversidade e inclusão seja disseminado, para que se mantenha um ritmo constante, incluindo as ações de planejamento dos Objective Key Results (OKRs).
Ampliação da “licença familiar”
As startups precisam estar mais flexíveis e atentas ao conceito de “família” inclusive na hora de conceder licenças já permitidas pela legislação brasileira, como de casamento, nascimento e até óbito de modo que haja a inclusão LGBTQIAP+.
Postura social
Muitas organizações adotam medidas de inclusão LGBTQIAP+ nas startups motivadas por questões comerciais, ou seja, para atingir novas camadas de clientes ou atrair a simpatia externa. Entretanto, o que realmente importa é ter uma postura social, revelando o papel da empresa diversa na sociedade.
Medidas simples, como acrescentar os pronomes de uso da comunidade LGBT nos e-mails, podem favorecer uma convivência mais saudável e respeitosa, mas além disso, é preciso colocar o tema em debate, sem que as pessoas precisem esconder suas identidades (aí está a importância das rodas de conversa e debate).
A startup pode apoiar causas e projetos sociais que realizam ações de empregabilidade e preparação focadas no público LGBT, além de abrir vagas afirmativas para pessoas desses grupos, principalmente à população trans que acaba sofrendo impactos diretos com o subemprego.
Além do 28 de junho
Outra ação importante é transformar as ações de diversidade e inclusão em perenes, para que não durem apenas até terminar o dia 28 de junho (Dia Internacional do Orgulho LBGTQIAP+).
camaleao.co – startup de inclusão – fala sobre recrutamento da comunidade LGBTQIAP+
A equipe do camaleao.co, uma startup que atua com a inclusão da comunidade LGBTQIAP+ no mercado de trabalho, conversou com nossa equipe sobre o tema. Veja o resumo a seguir.
Quais as dicas para melhorar o processo de recrutamento nas startups para incluir pessoas LGBTQIAP+?
Entender que o recrutamento é a porta de entrada de muitas pessoas LGBTQIAP+ e não deve ficar somente ali. Você pode melhorar o recrutamento em várias áreas, mas se você contratar uma pessoa LGBTQIAP+ e não melhorar o seu ambiente interno, haverá falhas. Todo o seu esforço de recrutamento será jogado no lixo. Portanto, mais do que recrutar é pensar no quanto aquela pessoa está sendo inserida no ambiente corporativo no dia a dia.
Quais os principais desafios enfrentados no mercado de trabalho?
Entre os desafios estão a LGBTfobia, a empresa despreparada para respeitar os colaboradores por serem diversos e pedindo muitos pré-requisitos inviáveis e surreais.
Como a comunidade pode atuar para vencer esses desafios?
Ela tem que se preparar como qualquer outro talento. Para isso, infelizmente, ela tem que superar a LGBTfobia que muitas outras pessoas não irão superar. Portanto, saber dos seus direitos e do que fazer, caso sofra LGBTfobia em processos seletivos ou dentro da empresa, é fundamental.
Qual é o papel da Camaleão?
Somos uma startup focada em soluçōes de diversidade LGBTQIAP+ para empresas. Atuamos na parte educativa com palestras, treinamentos e materiais digitais e, do outro lado, também ajudando com recrutamento de pessoas LGBTQIAP+ para empresas como In-bev, Electrolux, Copa Energia e LivUP.
Recentemente, lançamos o nosso portal, onde talentos LGBTQIAP+ podem cadastrar o seu currículo e, do outro lado, empresas fazer a busca ativa. Não temos nem um ano no ar ainda. Convidamos todas as pessoas da nossa comunidade a se cadastrar, pois é gratuito.
Conclusão
As startups têm uma participação muito importante neste debate, por isso, trazer à tona assuntos ligados à inclusão LGBTQIAP+ em startups é muito essencial.
Com essa iniciativa podem ocorrer troca de experiências positivas, novos insights para o RH e uma mentalidade focada na diversidade no momento do recrutamento tech.
Quer saber mais sobre diversidade e inclusão? Leia também sobre a carreira de Especialista em D&I e cultura de diversidade nas empresas.
A Coodesh é uma plataforma de recrutamento tech e testagem de desenvolvedores(as). Desenvolvemos talks internos de conscientização sobre assuntos relacionados à diversidade e inclusão.
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Colaborou Mateus Francisco, tech recruiter na Coodesh.